TEOLOGIA

ESTUDO BÍBLICO TEOLÓGICO – C M I

Definição – Se nos propusessem a explicação do Reino dos Céus, o que diríamos? Parece que nós, numa grande maioria achamos muito melhor explicar o que não é o Reino dos Céus do que o definir como tal. Como alguns, talvez, simplificássemos demais a matéria, dizendo apenas que o reino é a igreja. Porém, o assunto merece uma explicação bem mais completa. O que você acha?

Considerando o fato de que o Novo Testamento contém mais de uma centena de referências a este assunto, podemos perceber a sua importância como ensinamento bíblico genuíno e essencial; até porque o Mestre Jesus passou os três anos e meio de seu ministério “pregando o evangelho do reino” (Mateus 4:23). Tudo o que ele disse e fez durante esse período de sua vida estava relacionado com o reino. Enquanto narrativas paralelas mostram Jesus falando sobre “o reino de Deus”, Mateus cita-o 33 vezes como “o reino dos céus”. Que tal pensarmos um pouco nesse ministério tão negligenciado pelas igrejas “decadentes”!

Ao usar a expressão reino dos céus que por sinal é muito bem apropriada, Mateus reforça extraordinariamente a explicação que Jesus deu a Pilatos a respeito de seu reino, quando disse: “O meu reino não é deste mundo” (João 18:36). Positivamente, “O reino veio do céu; seu governo, suas leis, seu modo de vida, de pensamento e de adoração são aqueles do céu; a grande nação da qual os santos são cidadãos que está agora centrada no céu (Filipenses 3:20) e para onde o crente olha como seu lar, sua pátria” (Caffin, Pulpit Commentary).

Poderia o Reino ser a igreja? Podemos com certeza considerar e afirmar que aqueles que estão na igreja estão no reino, e que aqueles que estão no reino estão na igreja. E se é correto chamar a igreja o corpo de Cristo, também tem que ser correto falar dela como o reino. Contudo, a palavra reino tem sentidos não concernentes ao significado da palavra igreja. Enquanto igreja chama a atenção para as pessoas que aceitaram o chamado do céu, reino concentra-se mais no rei, seu governo e seu domínio.

Seria extremamente embaraçoso, se não incorreto, substituir a palavra reino, nas muitas passagens onde é encontrada, pela palavra igreja. – W. E. Vine diz que a palavra traduzida como reino “é principalmente um substantivo abstrato significando soberania, poder real e domínio…; e daí, transformando-se num substantivo concreto para indicar o território ou o povo sobre quem o rei domina… É usado especialmente para o reino de Deus e de Cristo. O reino de Deus é:

a) a esfera do domínio de Deus;

b) a esfera em que a qualquer dado momento, seu domínio é reconhecido”. (Expository Dictionary of New Testament Words).

Rabinos pensantes, mesmo antes dos dias de Jesus, entenderam algo referente ao que verdadeiramente seria o reino de Deus. De acordo com o Pulpit Commentary, certo rabino, Berequias, disse que quando Moisés perguntou a Deus por que somente Israel, dentre todas as nações, estava entregue aos seus cuidados, a resposta foi, “Porque eles tomaram sobre si o jugo de meu reino no Sinai, e disse, ‘Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos’” (Êxodo 24:7). Diversos estudiosos relatam uma opinião, comumente mantida, que se Israel fizesse perfeitamente apenas por um dia a vontade de Deus, o Messias teria vindo. Contudo, como Bob Waldron observa no artigo seguinte, Israel, como uma nação, jamais atingiu tal ideal. De fato, a vontade do céu só pôde ser perfeitamente conhecida e praticada entre os homens quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (João 1:14).

Comentando sobre Mateus 3:2, M. R. Vincent afirma: “No ensinamento de Cristo e nos escritos apostólicos, o reino do Messias é a própria realização da ideia profética referente ao domínio de Deus, sem nenhuma limitação nacional… Todos os seus sentidos são somente perspectivas diferentes da mesma grande ideia: a sujeição de todas as coisas a Deus, em Cristo”. (Word Studies in the New Testament).

Alfred Edersheim, em seu livro Life and Times of Jesus the Messiah, observa: “Uma análise de 119 passagens do Novo Testamento onde a expressão “reino” ocorre, mostra o que significa o governo de Deus; o qual foi manifestado em e através de Cristo: é aparente na igreja; desenvolve-se gradativamente no meio de obstáculos; é triunfante na segunda vinda de Cristo (‘o fim’) e, finalmente, aperfeiçoado no mundo por vir” (página 270). É esse conceito que é refletido nos artigos que se seguem.

A maioria do nosso ensinamento referente ao reino nos dias recentes tem sido refutar a noção falsa de que o reino ainda está para ser estabelecido na terra. Tal refutação tem sido tanto oportuna como valiosa. Contudo, a melhor defesa contra um conceito falso é um conceito acurado. Deixando, pois, as definições de estudiosos, voltemos às Escrituras para ver como a ideia do reino de Deus se desenvolveu no Velho Testamento e foi plenamente explicada na vida e ensinamento de Jesus e seus apóstolos. Sugerimos que você leia os artigos em ordem, uma vez que foram arranjados para seguir tão cronologicamente quanto possível a revelação de nosso Senhor sobre “os mistérios do reino. ”

O Reino do Velho Testamento

É no Velho Testamento que lemos sobre o reino de Deus, mas também lemos sobre um reino que ele estabeleceria mais tarde (Daniel 2:44). Se não levarmos em conta ambos os fatos, não poderemos ter um entendimento claro do assunto.

O domínio universal de Deus

O Salmista escreveu, “O Senhor preside aos dilúvios; como rei, o Senhor presidirá para sempre” (Salmo 29:10). Ezequias, quando ameaçado pelos assírios, orou, “Ó Senhor, Deus de Israel, que estás entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra” (2 Reis 19:15). O domínio de Deus sobre os céus e a terra é eterno e universal, e é baseado em seu papel de Criador e Mantenedor.

O Reino de Israel, o povo de Deus

No Monte Sinai, Deus disse a Israel: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Êxodo 19:6). Evidentemente, Deus tencionava que Israel fosse um reino, mas um reino sob seu domínio. Em Deuteronômio 17:14-20, Deus deu leis especificamente para os reis que Israel teria mais tarde. Por outras passagens, contudo, temos que concluir que Deus estava prevendo a exigência prematura de Israel por um rei, e não sua voluntária concessão de um rei. Os que eram espiritualmente inclinados, no meio do Israel físico, sabiam que Deus era o verdadeiro rei de Israel. Quando Israel pediu um rei, o Senhor disse a Samuel: “Não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele” (1 Samuel 8:7; 12:12).

Quando Saul fracassou, Deus escolheu outro líder, Davi. Ele não era um homem sem pecado, mas sua atitude para com Deus era tal que Deus considerava Davi um homem que lhe agradava (1 Samuel 13:14). Portanto, ele prometeu a Davi que estabeleceria seu trono, e o trono de seu filho para sempre. (1Crônicas 17:11,14). O destino de Davi tornou-se entrelaçado com a vinda do Messias, de modo que Davi se tornou um tipo, ou seja, uma sombra do Messias.

Davi se viu como rei de Israel, mas ele e outros israelitas espirituais perceberam que ele era realmente apenas um príncipe de Deus; o reino de Israel ainda era de Deus. Abias, filho de Roboão, reprovou a Jeroboão filho de Nebate e seus seguidores, dizendo: “Não vos convém saber que o Senhor, Deus de Israel, deu para sempre a Davi a soberania de Israel, a ele e a seus filhos? ” “Agora, pensais que podeis resistir ao reino do Senhor, que está nas mãos dos filhos de Davi? ” (2Crônicas 13:5,8).

O Reino do Messias

Deus não pensou em enviar seu Filho somente depois que Israel pediu um rei. Ele predisse através de Jacó que o “cetro” não se separaria de Judá até que Siló viesse, e a ele seria a obediência dos povos (Gênesis 49:10). Essa passagem estabelece tanto a identidade real daquele chamado Siló e o domínio universal que ele teria. Muito tempo antes de Israel se tornar um reino, já estava no propósito de Deus enviar um Rei, o Cristo. Assim como Israel fracassou em ser a nação santa que Deus desejou, também os reis do Velho Testamento fracassaram em governar com perfeita justiça e equidade. Em contraste, Deus disse, “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra” (Jeremias 23:5).

Ainda que o domínio de Deus existisse antes da vinda de Cristo, havia algum sentido no qual o reino seria estabelecido de uma forma que não tinha existido anteriormente. (Daniel 2:44). Seria o reino de Deus entregue nas mãos do Ungido de Deus. Numa visão, Daniel viu ser dado ao Messias, “domínio, e glória, e o reino” (Daniel 7:14). Esse reino o Messias partilharia com os santos. (Daniel 7:18). Deus faria do Messias um rei: “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo Monte Sião” (Salmo 2:6). Ele seria o governador escolhido por Deus: “de ti me sairá o que há de reinar em Israel” (Miquéias 5:2). Ainda que o Messias fosse rei, ele governaria pelo Pai (Obadias 21).

No reino messiânico, não haveria reino físico, nem identidade ou território físico. Portanto, no reino da nova aliança não poderá haver, nenhuma distinção entre o cristão nominal e o verdadeiro cristão. Participar do reino de santidade exigiria que se fosse verdadeiramente santo (Zacarias 14:16-21). No reino de Cristo, Deus tem seu rei ideal, e tem sua nação santa, a nação que ele quis desde a fundação do mundo.

Profecias sobre um Novo Reino

Deus é um governador. Ele domina porque é Deus. Através dos tempos, Deus tem exercido sua autoridade sobre a humanidade e toda a criação. Começando em Gênesis 1:1, Deus estabeleceu-se como aquele que tem o poder supremo sobre o universo inteiro, criando todas as coisas com o poder de sua Palavra (João 1:1-3). Nos dias do Velho Testamento, Deus tinha um reino entre os homens. Ele tinha escolhido a nação judaica que veio de Abraão (Gênesis 17:6) para ser sua nação santa e um reino sacerdotal (Êxodo 19:5-6). Mas no final os judeus acabaram rejeitando um rei que não podiam ver que não os conduzia fisicamente na batalha, que não os representava entre outras nações com pompa e cerimônia; eles exigiam um rei diferente para dominar sobre eles (1 Samuel 8:6-9).

Deus concedeu-lhes um rei humano, um sistema que se mostrou tão difícil como Deus tinha profetizado que seria. Deus estava desenvolvendo seu plano para um reino que jamais cairia e jamais o rejeitaria como rei. Em Gênesis 17:6, a Abraão foi dito que muitas nações e reis descenderiam dele. O reino de maior destaque a sair de Abraão foi a nação israelita; muitos grandes reis governaram essa nação, tais como Davi, Salomão, Ezequias e Josias. Mas o melhor rei que já chegou a reinar sobre Israel foi Cristo, também descendente de Abraão (Mateus 1:1-17). Através do Rei constituído por Deus, o Ungido, o Cristo, todas as nações da terra são abençoadas (Gênesis 12:3). Jacó profetizou que o cetro (autoridade) jamais se apartaria de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que viesse Siló (Gênesis 49:10). Muitos homens que governaram como reis indicados por Deus vieram e foram através da linhagem de Abraão, Isaque e Jacó; mas foi Cristo quem por último ocupou o trono de Deus e ainda permanece a dominar nesse trono hoje, porque ele vive para sempre (Salmo 45:6).

O salmo 45 diz respeito a um grande rei sobre o povo de Deus. Mas esta passagem se refere a mais do que um mero homem. O versículo 6 exalta Deus como rei “para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino”. O versículo 7 aponta para Deus que é ungido por Deus acima de todos os outros. Esse salmo profetizou um novo reino que ainda estava por vir. O profeta Natã previu um novo reino a vir depois do reinado de Davi. A maioria da profecia diz respeito ao sucessor imediato de Davi, Salomão, mas diversos versículos afirmam coisas que não correspondiam a ele. Salomão não viveu para sempre (2Samuel 7:13). O reinado de Salomão foi dividido e também levado em cativeiro depois dos seus dias (2Samuel 7:16). Ainda que a linhagem continuasse até o tempo de Cristo, ninguém realmente assumiu o trono sobre o povo de Deus durante mais de 400 anos entre os dois testamentos. Essa passagem aponta para outro reino que ainda estava por vir.

Deus revelou através do profeta Daniel alguma noção do tempo quando Deus começaria seu domínio através de Cristo. Em Daniel 2:31-45, Daniel explicou o sonho de Nabucodonosor, com respeito a uma imagem com quatro partes diferentes em seu corpo. Cada parte predizia um império mundial que estava por vir, começando com o império corrente dos babilônios, a cabeça de ouro. O peito e os braços, de prata, eram o império medo-persa que derrotaria os babilônios em breve. O ventre e os quadris, de bronze, representavam o império grego. Depois, o reino simbolizado pelas pernas de ferro, e os pés, em parte de ferro, em parte de argila, era o império romano. “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que… subsistirá para sempre” (Daniel 2:44). Esse é o reino de Deus que estava por vir.

Os judeus nunca estiveram errados em crer num grande reino vindouro. Deus deixou muito claro que ele tinha um plano para estabelecer o domínio de seu Filho, Jesus o Cristo, sobre um reino eterno que o honraria sempre e o serviria de boa vontade e alegremente. Os cidadãos desse reino se regozijariam porque seu rei governaria com justiça (Isaías 32:1). Até mesmo seu nome seria Paz, Maravilhoso, Poder e Eternidade (Isaías 9:6-7). O Rei provindo de Deus reinaria com julgamento e justiça; os súditos teriam segurança e salvação através dele (Jeremias 23:5-6).

Sob a mão opressora do Império Romano, os judeus ansiavam por esse reino. Eles erradamente interpretaram essas profecias como significando um reino físico que derrubaria a carga romana; mas, em seus reinos terrestres, Deus estava prenunciando um reino espiritual que não era deste mundo; um reino que veio em Cristo (João 18:36-37).

Expectativas Judaicas

A característica central e dominante do ensinamento dos rabinos era o advento certo de um grande Libertador nacional, o Messias, ou o Ungido de Deus ou, na tradução grega do título, o Cristo. Em nenhuma outra nação que não a dos judeus tal noção jamais se enraizou nem mostrou tal vitalidade. Desde os tempos de suas grandes aflições nacionais, sob seus últimos reis, as palavras de Moisés, de Davi e dos profetas tinham sido citadas como promessas divinas de um Príncipe poderoso que viria para “restaurar o reino a Israel. ” Tais eram, com efeito, as ideias gradativamente amadurecidas sobre o Messias o Imortal e Eterno Rei, investido de poder divino e ainda um homem, que tinham sido tiradas dos mais antigos, bem como dos últimos escritos sagrados ou religiosos da nação. Poucos, porém, percebiam que um Rei celestial tinha que atuar num reino santo; que seu reino verdadeiro precisaria ser nas almas purificadas dos homens. E poucos também compreendiam que a verdadeira preparação para a sua vinda não era orgulho vanglorioso, mas humilhação por causa do pecado.

Havia concordância entre os rabinos sobre seu lugar de nascimento, que deveria ser em Belém e que ele tinha que se levantar da tribo de Judá. Acreditava-se que ele mesmo não saberia que era o Messias até que Elias viesse, acompanhado por outros profetas, e o ungisse. Até aí ele estaria oculto ao povo, vivendo como um desconhecido entre eles. Ele libertaria Israel pela força das armas, e sujeitaria o mundo a ele.

“Que belo”, diz um escrito dos rabinos de Jerusalém, “é o Rei Messias, que se levanta da casa de Judá! Ele cinge seus lombos, desce, ordena a batalha contra seus inimigos, e mata seus reis e seus principais capitães; não há ninguém tão poderoso que possa resisti-lo. Ele deixa os montes vermelhos com o sangue dos seus inimigos destruídos; suas vestes, manchadas pelo sangue deles, são como as películas das uvas roxas. ” “As bestas do campo se alimentarão durante doze meses com a carne dos mortos, e as aves do ar também se alimentarão deles durante sete anos. ” “O Senhor”, diz este escrito, “nos vingará no dia de Gogue. Naquela hora o poder das nações será quebrado; elas serão como um navio cujo cordame é arrancado, e cujo mastro está rachado, e assim a vela não pode mais ser levantada. Em seguida, Israel dividirá os tesouros das nações entre si: bastantes despojos e riquezas, para que, se houver entre eles coxo ou cego, até estes terão sua parte. ” Os pagãos se converterão ao Senhor e andarão em sua luz.

O reino universal assim fundado teria sido um paraíso terrestre para os judeus. Naquele dia, dizem os rabinos, haverá um punhado de trigo no topo dos montes e seus talos serão como palmeiras ou pilares. Nem haverá nenhuma dificuldade para colhê-los, pois Deus enviará um vento de seus aposentos que derrubará a farinha das espigas. Um grão de trigo será tão grande como os dois rins dos maiores bois. Todas as árvores produzirão continuamente. Uma única uva encherá uma carroça ou um navio, e quando for trazida para casa tirarão vinho dela como de um barril.

Um grande rei precisa ter uma grande capital, e aí, Jerusalém, a capital do reino do Messias, será muito gloriosa. Nos dias que virão, dizem os rabinos, Deus juntará o Sinai, o Tabor e o Carmelo e assentará Jerusalém sobre eles. Ela será tão grande que cobrirá tanto terreno quanto um cavalo pode correr desde o amanhecer até que sua sombra fique embaixo dele, ao meio-dia. Ela chegará até as portas de Damasco. Alguns deles até nos dizem que suas casas serão construídas com cinco quilômetros de altura. Suas portas serão de pedras preciosas e pérolas, trinta e três metros tanto de largura como de espessura, ocas. Em volta, o país será cheio de pérolas e pedras preciosas, de modo que os judeus de todas as partes possam vir pegá-las o quanto quiserem.

Nessa esplêndida cidade o Messias deve reinar sobre um povo que será totalmente constituído de profetas. Uma corrente frutífera brotará do templo e regará a terra, suas ribeiras serão sombreadas por árvores carregadas dos mais finos frutos. Nem doença nem defeito serão conhecidos. Não haverá tais coisas como um homem coxo, ou algum cego ou leproso; os mudos falarão e os surdos ouvirão. Haverá um milênio de orgulho nacional, glória e gozo.

Foi a um povo embriagado com a visão de tal felicidade exterior e grandeza política sob um Messias conquistador do mundo que Jesus Cristo veio com suas doutrinas totalmente opostas referente à meta do Messias e seu reino. Somente aqui e ali houve uma alma com algum pensamento mais alto e mais puro do que tais sonhos grosseiros, materialistas e limitados.

O Nascimento do Rei

O evangelho de Jesus nos diz que sua vida e morte testemunham a natureza inigualável de sua realeza e reino. Mas o que seu nascimento nos diz?

Jesus é o único qualificado para ser Rei. Mateus traça a linhagem de Jesus através de José (1:1-17), um descendente de Davi (1:6), uma vez que somente um filho de Davi poderia reinar como Messias (Salmo 89:3-4). Lucas traça do mesmo modo a linhagem de Maria até Davi (3:23,31), assim qualificando duplamente Jesus para ser o Messias. Contudo, o Messias precisa também ser o Filho do Céu (Salmo 2:7). Pela virgindade de sua mãe, Jesus nasceria como o único Filho de Deus. O anjo Gabriel assegurou a Maria que o “poder do Altíssimo” (Lucas 1:35) lhe daria a capacidade de conceber sendo virgem (Mateus 1:20). E, “por isso, o ente santo” poderia ser “chamado Filho de Deus”. (Lucas 1:35).

O nascimento de Jesus demonstra sua divindade. Anjos disseram a Maria (Lucas 1:26-38) e a José (Mateus 1:18-23) que seu “Filho do Altíssimo” era mais do que apenas um filho. Antes, ele seria o Filho unigênito de Deus (João 3:16), chamado apropriadamente “Emanuel”, ou seja, Deus conosco (Isaías 7:14; João 1:14).

E Jesus reinaria sobre a casa de Jacó reconstruída (Lucas 1:33; Atos 15:16-18). Desde que ele recebesse quem quer que o temesse e fizesse o que é reto (Atos 10:35), essa casa consistiria de judeus e de gentios. Ele concederia a todos os seus cidadãos uma igualdade e comunhão que o mundo jamais tinha conhecido (Gálatas 3:28), pois ele seria boa nova “para todo o povo” (Lucas 2:10). Todavia Jesus não reinaria como um tirano, mas como Salvador. Ele salvaria “seu povo dos pecados deles” (Mateus 1:21), trazendo a eles a maior paz de todas, paz com Deus (Romanos 5:1). Ele salvaria, não subjugaria. Da mesma forma que seu reino traz salvação (Atos 2:23-24), ele não poderia ser rei se não fosse Salvador (Zacarias 6:12-13; Hebreus 1:3). Portanto, como ele salva, ele na verdade tem que reinar (Atos 2:33-36).

O modo de seu nascimento mostra como ele é inigualável. A maioria dos reis nasce no luxo e na riqueza. Porém, não este Rei. Suas faixas não foram de fina púrpura nem seu berço de ouro. Em vez disso, uma manjedoura serviu como sua cama. Esse Rei humilde fez uma entrada quieta e não pretensiosa para aquelas pessoas de humildade incomum que seriam seus cidadãos. Os anjos não anunciaram seu nascimento aos poderosos e prestigiosos, mas aos pastores. Eles, humildemente, vieram, “apressadamente” para encontrar “a criança deitada na manjedoura”. Encontrando-o, eles glorificaram e louvaram a Deus. Para os corações que respondem, como os desses pastores, em fé confiante nas palavras de Deus, Jesus seria Rei. Entretanto, esse Rei seria “para ruína como para levantamento” (Lucas 2:34). Porque a maioria rejeita sua mensagem (João 1:11), eles caem enquanto outros sobem a “lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Efésios 2:6) pela obediência à sua vontade (Mateus 5:19).

Até mesmo seus pais representam o tipo de cidadãos que pertenceriam ao seu reino: justos (Mateus 1:19), amorosos (Mateus 1:19), puros (Mateus 1:23), e pessoas obedientes (Mateus 1:24; Lucas 1:38; 2:22,41). Seguindo a estrela até Herodes, homens sábios do oriente aprenderam com o profeta Miquéias que o Messias nasceria em Belém. Eles entraram na casa (não estábulo) e viram o menino (não o recém-nascido) (Mateus 2:11). Portanto, esses homens possivelmente viram Jesus antes de seu segundo ano de idade, em vez de vê-lo na manjedoura, porque Herodes informou-se com os homens sábios “quanto ao tempo em que a estrela aparecera” (2:7) e mais tarde matou crianças de dois anos para baixo (2:16).

Até mesmo os visitantes do oriente tipificam os cidadãos do reino. Dispostos a fazer uma viagem longa e árdua só para vê-lo, eles o adoraram (Mateus 2:11). Eles trouxeram dádivas adequadas a um rei: ouro, uma dádiva comum à realeza (1Reis 10:14-22); incenso, frequentemente ligado com adoração a Deus (Levítico 2:1-16) e mirra, uma especiaria tipicamente cara usada na adoração (Êxodo 30:23-33), na aroma terapia (Salmo 45:8), e no embalsamamento (João 19:39). Nós também precisamos chegar alegremente ao nosso Rei e oferecer nossos corpos “por sacrifício vivo, santo… que é o nosso culto racional” (Romanos 12:1). Seu nascimento valida seu direito ao trono de Davi, sua divindade, seu domínio internacional e até a natureza de seu reino. Mas o que os pais, os pastores e os homens sábios demonstram é que nada menos do que corações submissos e vidas obedientes são suficientes para esse Rei que eleva corações humildes à glória no reino dos céus.

O Reino dos Céus: A Preparação Inicial

No Novo Testamento, dois eventos servem para esclarecer as profundas implicações de ser um cidadão do reino de Deus: a pregação de João Batista e o batismo de Jesus. Esses dois eventos foram preparatórios para o estabelecimento do reino de Deus. Um registro inspirado de cada um deles pode ser encontrado no terceiro capítulo do evangelho de Mateus. Os parágrafos que se seguem darão um vislumbre breve desse capítulo (todas as referências à Escritura serão baseadas em Mateus 3, a menos que seja dada outra indicação). Além disso, será ressaltada a importância do capítulo no entendimento do conceito bíblico concernente ao Reino de Deus.

Lemos sobre a pregação de João na primeira parte de Mateus 3 (versículos 1-12). Esse destemido profeta de Deus começou seu ministério de ensinamento destacando a necessidade de arrependimento (versículo 2). A palavra arrepender-se significa mudar. Uma mudança de caráter daqueles que viviam no tempo de João era necessária, em vista do que estava iminente: “porque está próximo o reino dos céus”. Antes que os homens pudessem ganhar entrada no reino de Deus, que estava vindo, eles precisariam primeiro sujeitar-se a uma mudança interna de pensamento com respeito ao pecado. Tal é o caso hoje em dia também, para que Deus governe verdadeiramente no coração.

A pregação de João também ligou o rito do batismo ao arrependimento. Isso é evidente em vista da resposta de muitos quando vinham confessando seus pecados e sendo batizados no Jordão (versículo 6). O batismo de João era de “arrependimento para remissão de pecados” (Marcos 1:4). O batismo simbolizava a remoção do pecado, aquilo que contamina as almas de todos os homens e mulheres responsáveis. Uma purificação do pecado era necessária antes que se pudesse ser aceito no reino de Deus. A obra preparatória de João a esse respeito apontava para o batismo pregado por Cristo e seus apóstolos (Mateus 28:19-20; Marcos 16:15-16; 1 Pedro 3:21; etc.). A recusa a ser batizado em nome de Jesus para a remissão dos pecados proíbe para sempre a pessoa de entrar no reino dos céus!

Muitos daqueles da hierarquia religiosa do tempo de João recusaram dar atenção a sua mensagem. Eles se consideravam aceitáveis por Deus na base de seus laços ancestrais com Abraão (veja versículos 7-9). João salientou que isso era uma base insuficiente para a cidadania no reino de Deus. Lamentavelmente, muitos em nossos tempos acreditam que, serem “criados na igreja” e membros “de carteirinha” num corpo local de crentes já é garantia de vida eterna. Porém, essa vida eterna nunca pode ser alcançada sem uma verdadeira mudança interna de caráter! A mensagem de João era clara: demonstração de um coração mudado era essencial (versículo 8).

A pregação de João apontava não somente para o reino que estava vindo, mas também para o rei que estava chegando: Jesus Cristo! João prontamente confessou a superioridade do Messias vindouro: “aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu”. O papel de Jesus no reino de Deus seria distinguido tanto pela obra do Espírito Santo como pelo julgamento final do homem pecaminoso (versículos 11-12). Um entendimento da grandeza de Jesus e de sua obra é necessário para receber o seu reino adequadamente. Jesus tem que reinar no coração em virtude de sua supremacia!

O segundo evento preparatório neste capítulo é o batismo de Jesus (versículos 13-17). Ao ser batizado por João, duas provas divinas autenticaram o papel de Jesus como o Messias profetizado: E o Espírito Santo desceu sobre Jesus “como pomba” (versículo 16); e  Deus falou do céu: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo” (versículo 17). Uma conversa importante aconteceu, contudo, antes de Jesus ser batizado. Inicialmente, João questionou sua própria dignidade para batizar Jesus (versículo 14). O profeta confessou sua inferioridade e pecaminosidade ao reconhecer sua necessidade de ser batizado por Jesus. Apesar disso, Jesus insistiu para que João batizasse o rei do céu! A razão de sua insistência é declarada: “… assim, nos convém cumprir toda a justiça” (versículo 15). A obra de João era parte do plano de redenção de Deus; portanto, era necessário que o próprio Jesus satisfizesse a exigência de Deus para que todos os homens recebessem o batismo de João. Jesus não necessitava de perdão de pecados. Ao mesmo tempo, a obediência nisso era necessária para ele servir como rei no reino perfeito de Deus.

Em conclusão, deve ser ressaltado que tanto a pregação de João como o batismo de Jesus ilustram verdades importantes sobre o reino de Deus. Primeiro, somente quando o homem decidir fazer o que é certo e seguir a vontade de Deus com o coração, é que o reino de Deus continuará crescendo. Segundo, uma limpeza referente ao pecado é essencial antes que se possa ser aceito no reino de Deus, essa limpeza é caracterizada pela perfeição e santidade. Só através do poder santificador do sangue de Jesus pode-se ser aperfeiçoado.

O batismo é o ato que permite ao sangue de Jesus fazer o seu trabalho. Terceiro, uma linhagem religiosa não tem nenhuma validade no governo de Deus. Se alguém é incapaz de manifestar externamente que uma mudança interior ocorreu, então a cidadania no reino de Deus é impossível. Finalmente, o próprio rei do reino celestial desejava submeter-se aos mandamentos de Deus. Se Jesus estava disposto a submeter-se ao domínio de Deus, não deveriam os homens pecaminosos estar ainda mais dispostos a fazer isso? Nesse ato de obediência por parte deJesus é encontrada a essência do reino de Deus: o absoluto e supremo reino de Deus no coração!

As Tentações e o Reino

Transformar pedras em pão. Saltar do templo. Dobrar os joelhos diante de Satanás. Qual ameaça real, esses atos, fariam ao reino? Certamente o Rei podia perceber que a última tentação era a trama de Satanás. As duas primeiras nem sequer parecem prejudiciais. Jesus um dia haveria de multiplicar peixes e pães para alimentar uma multidão. Acalmar o Mar da Galileia ou ressuscitar o morto Lázaro não foi menos sensacional do que saltar do pináculo do templo. Entretanto, cada uma dessas tentações era uma tentativa calculada pelo príncipe do mundo para desencaminhar o reino de Deus logo no início do ministério do Messias.

Essas não foram as primeiras tentações nem seriam as últimas. Jesus deve ter sido tentado quando crescia na Galileia; entretanto, resistiu aos dardos inflamados de Satanás para emergir de Nazaré imaculado. Mais tarde, durante seu ministério, Satanás recrutou os próprios apóstolos de Jesus para, conscientemente (João 13:2) e inconscientemente (Mateus 16:23), tentar desviar o Mestre do seu rumo. Jesus até mesmo combateu e superou suas próprias emoções no Getsêmani quando enfrentou a morte. A ocasião dessas provações é de máxima importância. (Mateus 4:1-11). O Pai tinha acabado de dar aprovação ilimitada ao seu Filho (Mateus 3:17). Se Deus estava bem satisfeito com seu Filho, este precisava demonstrar-se agradável ao Pai. Qualquer coisa a menos seria uma miragem de um reino estabelecido na justiça e mantido pela obediência. A declaração de Jesus de fazer a vontade do Pai durante seu ministério terreno teria um som oco se Satanás pudesse indiciá-lo aqui por desobediência. Essas provas também nos dão discernimento a respeito da resposta que Deus deseja daqueles que estão no seu reino.

Transformar pedras em pão. Depois de impor-se um jejum de quarenta dias, Jesus estava faminto, fisicamente enfraquecido. A sugestão de Satanás parecia bastante inocente: satisfaça sua fome utilizando seu poder miraculoso. Fazendo isso, contudo, questionava a declaração singular de Jesus: “Se és Filho de Deus”. A ideia de Satanás de filiação era exercer os privilégios divinos para satisfação pessoal, com ou sem a aprovação dos céus. Jesus não foi abalado e citou palavras já ditas por Deus referente à sobrevivência do homem. Ele raciocinou a partir da revelação de Deus que o pão físico é necessário para sustentar a vida, mas não revoga a responsabilidade espiritual. Nossa lealdade ao Rei é provada pelas nossas circunstâncias. Satanás ataca-nos oferecendo o que queremos ou mesmo o que necessitamos ao custo de torcermos a vontade de Deus para se ajustar à nossa.

Necessidades legítimas, como ganhar a vida, obter educação e prover as necessidades de nossas famílias não podem ultrapassar nosso serviço a Deus. Situações nas quais nossos interesses pessoais sofrem (“certamente Deus não espera que eu permaneça num casamento no qual não sou feliz”) não mudam nossa responsabilidade de fazer a vontade do Pai.

Saltar do templo. A seguir Satanás também usou as Escrituras, e insistiu com Jesus para que experimentasse a promessa de seu Pai de socorro providencial. Jesus percebeu a sutileza dele e replicou com outra Escritura para indicar a citação de Satanás como uma tentativa de pôr Deus à prova. Jesus confiava em Deus baseado no testemunho escrito de Deus. Sua fé não exigia prova visível. Ele recusou tentar confirmar o amor de seu Pai colocando-o à prova. Jesus exemplificou perfeitamente o que é andar pela fé em vez de pelo que se vê.

É tentador para nós amenizarmos a força dos mandamentos de Deus presumindo saber seus motivos. É muito melhor aceitar a palavra dele, harmonizando tudo o que ele revelou sobre um assunto. Um esposo que exija da esposa amor antes de amá-la, não a ama realmente. Tais “provas” mostram uma falta de fé em vez de produzi-la.

Curvar-se diante de Satanás. A última tentação de Satanás não tem nenhuma sutileza. Ele ofereceu a Jesus todos os reinos do mundo em troca da fidelidade momentânea. Jesus sabia que esses reinos seriam seus, mas ao custo da cruz e de seu sofrimento. Ele repreendeu a Satanás, citando a palavra do Pai para adorar e servir somente a Jeová. Satanás quer que abandonemos nossa cruz e façamos nosso serviço do reino de forma interesseira, exaltando nossa vontade acima da de Deus. Ele nos tenta com diversões e passatempos que absorvem nossa vida e fascinam nossas mentes, lentamente riscando Deus de nossa vida. Ele usa a pressão de nossos amigos, insistindo-nos a ajustarmos nossa roupa e hábitos ao mundo. Os meios de comunicação rotulam a moral absoluta de Deus como extrema e intolerante.

Todos os avanços de Satanás precisam ser rejeitados, independente do custo para nós. Jesus provou seu compromisso para com a vontade do Pai, conhecendo e aplicando sua Palavra. É um modelo que precisa ser repetido em nossa vida para que Deus nos governe e para que sejamos verdadeiros cidadãos do reino dos céus.

O Evangelho do Reino

Jesus veio “pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:14-15). Com a brevidade usual, Marcos expôs o que ele e outros escritores inspirados denominaram o evangelho do reino. Evangelho significa boa nova ou boa mensagem. O reino de Deus estava próximo. Sua vinda estava perto. Os mandamentos de Deus ordenam a todos que se arrependam e creiam nessa jubilosa mensagem. Nunca houve uma mensagem tão acreditável. O poder miraculoso provava que Jesus falava a verdade; “trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias enfermidades e tormentos: endemoniados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou” (Mateus 4:24).

O poder sobre os demônios provou ser verdadeira a sua mensagem e anunciou poderosamente a chegada do reino. Acusado de expelir demônios pelo poder de Satanás, Jesus replicou que, se isso fosse verdadeiro, o reino de Satanás estaria dividido, condenado à aniquilação. “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus”, ele disse, “certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mateus 12:22-30). A vinda do reino de Deus era um golpe mortal em Satanás. A luta foi breve. Ainda que tudo parecesse perdido na cruz, a vitória foi arrebatada da morte quando Cristo ressuscitou. O reino veio! Essa boa nova ressoou em todos os cantos do globo e ainda oferece esperança a todos os pecadores. Ela persiste porque o evangelho do reino é:

a) A boa nova de Deus (Romanos 1:1). Ele é sua fonte. Paulo escreveu, “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito”. (1 Coríntios 2:9-10). As boas novas do reino são dignas de aceitação e crédito.

b) A boa nova do Filho de Deus, Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses 3:2). Ele é o mensageiro. “Deus… nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Hebreus 1:1-2). Jesus não é somente o mensageiro, ele é a mensagem. O evangelho apresenta Jesus: quem ele é (o Filho de Deus), como foi declarado (ressuscitado dentre os mortos), e o que ele fez (fez-nos seus chamados, amados de Deus) (Romanos 1:1-7,9,16). Marcos afirma que o início do evangelho de Jesus Cristo estava escrito nos profetas (Marcos 1:1-2). As boas novas de um reino vindouro seriam incompletas se não houvesse predição, descrição e anúncio da vinda do Rei.

c) A boa nova da graça de Deus (Atos 20:24). É uma bela história de amor, e a graça de Deus é vista nesse amor. Pela graça ele nos salva e nos eleva para sentarmos em lugares celestiais em Cristo (Efésios 2:4-8). Quando se fica na graça de Deus, tem-se paz com Deus em seu reino (Romanos 5:1-2; Colossenses 1:13-14). A graça de Deus explica a bondade básica do evangelho.

d) A boa nova da nossa salvação (Efésios 1:13). O evangelho é o poder de Deus para salvar (Romanos 1:16). Por ele os pecadores creem que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos (Romanos 10:9) e são persuadidos a invocar o nome do Senhor para serem salvos (Romanos 10:13). Nele eles aprendem que para permanecer no amor de Deus e para retribuir-lhe amor, é necessário guardar seus mandamentos (João 15:9-10; 1 João 5:3). Obedecendo quanto ao arrependimento e batismo (Marcos 16:16; Atos 2:38), eles se tornam cidadãos do reino (Atos 2:41,47; Colossenses 1:13).

e) A boa nova de paz (Efésios 6:15). Muitos buscam a paz. Alguns fingem ter a paz, mas por dentro estão as dúvidas, a ansiedade e a perturbação. Outros tentam fazer a paz. Horas e dinheiro incontáveis são gastos nos auditórios de conferências do mundo buscando a paz. Tanto os líderes políticos como os religiosos negociam sem sucesso duradouro. Mas o evangelho do reino diz, “simplesmente receba a paz”. O evangelho leva o homem a se reconciliar com Deus (Romanos 5:10-11) e unir-se com o seu semelhante (1 João 5:1). Jesus Cristo, que é nossa paz (Efésios 2:14-18), diz, “Vinde a mim…Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim…e achareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11:28-30). Esse descanso traz paz com Deus e consigo mesmo, e dá ao lar, à igreja e a tudo mais, uma calma celestial. Oh, paz que ultrapassa o entendimento (Filipenses 4:7)!

f) A boa nova de esperança (Colossenses 1:23). Muitos dos que leem isto têm ouvido e recebido aquela mesma esperança do evangelho que os cristãos primitivos abraçaram. Que Deus nos ajude a permanecer “na fé, alicerçados e firmes” para que nossa esperança no reino não venha a diminuir.

Os Cidadãos do Reino – Mateus 5

Mateus, ao descrever aquele período do ministério de Jesus que inclui o que chamamos o sermão do monte, explica que Jesus percorria “toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino” (Mateus 4:23). O sermão que se segue começa descrevendo aqueles para os quais o reino dos céus é, (Mateus 5:3), e termina explicando quem entrará no reino dos céus (Mateus 7:21). O capítulo 5 é uma descrição do caráter dos cidadãos do reino e contém instruções sobre como ser aceitável ao rei.

O perfil do cidadão do reino

O sermão de Jesus abre-se com uma lista de bem-aventuranças que começa e termina dizendo que “deles é o reino dos céus”. Essas bem-aventuranças são prometidas àqueles que possuem um determinado conjunto de qualidades (5:3,10) representando os muitos aspectos do caráter dos cidadãos do reino de Deus. Essas qualidades de caráter poderiam ser surpreendentes ou até mesmo decepcionantes para alguns. Antes que pessoas conhecidas pelo orgulho, força e invencibilidade, os cidadãos do reino dos céus são pobres, e reconhecem sua pobreza (v. 3). Eles lamentam o que é errado (pecado e as consequências do pecado) no mundo (v. 4); estão famintos por algo que substitui sua própria injustiça (v. 6); são mansos, misericordiosos, puros de coração, e ansiosos por levar a paz de Deus ao mundo (vs. 5,7,8,9). No fim da lista, eles são perseguidos (v. 10), injustamente (v. 11), e sem alívio neste mundo (v. 12).

Somos tocados por duas coisas sobre as descrições desses cidadãos. Primeiro, os cidadãos não trazem consigo ao reino nenhum poder ou valor próprio. Alguém poderia esperar cidadãos que têm dinheiro, força, poder ou popularidade para contribuir, ao invés daqueles que são pobres, lamentosos, famintos e sedentos, isto é, que necessitam de alguma coisa de seu rei.

Em segundo lugar, essas são qualidades que existem na natureza espiritual dos cidadãos. Suas necessidades e carências são espirituais, e eles não serão desapontados ao saberem que o reino de Deus não lutará por vitórias terrenas (João 18:36), nem se preocupará com comida e bebida, mas eles esperam, em vez disso, “justiça, e paz, e alegria” (Romanos 14:17).

A Justiça do Cidadão do Reino

A lei e a submissão à lei (justiça) são transações entre reis e cidadãos. Ainda que os cidadãos não forneçam nenhuma coisa essencial para a sobrevivência do reino, deles se espera muita obediência. O próprio Jesus foi o cumprimento da lei e dos profetas (5:17), a revelação de Deus quanto a sua vontade aos possíveis súditos. Jesus ressaltou a obediência e o ensinamento da lei de Deus como uma medida direta da sua posição no reino (5:19). Novamente, aqui ficamos surpresos. Jesus diz que: “se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”. Como poderia ser ultrapassada a justiça dos escribas e fariseus, que eram famosos pelo seu conhecimento e obediência à lei de Deus?

Primeiro, a obediência dos escribas e fariseus não era motivada pelo desejo de agradar ao rei; mas sim, por outras coisas: o desejo de serem vistos pelos homens (6:2; 23:5), a esperança de receber algo em troca do que se fez (5:46-47), ou o desejo de retribuição por ofensas feitas (5:38,43).

Segundo, e mais importante, a obediência deles não partia do espírito. Enquanto governantes terrenos estão preocupados só com os atos externos (não roubar, pagar seus impostos, etc.), o reino dos céus governa o coração. Em vez de meramente proibir o homicídio (o ato), a ira sem causa é proibida e o desejo e esforço para o perdão é exigido (5:21-24). Além de restringir as atividades sexuais, a cobiça (o pensamento do coração) é condenada (5:27-28). A veracidade, ultrapassando o mero cumprimento dos votos para concluir tudo o que se fala, é exigida (5:33-37). Em vez de prover meios para retaliação legal, como muitos governos humanos fazem, os cidadãos do reino precisam retribuir com bondade ao abuso (5:38-42). O reino dos céus está cheio de cidadãos que amam, abençoam, fazem o bem, e oram por aqueles que os maltratam e perseguem (Mateus 5:43-47).

A pregação do evangelho do reino começa com a promessa de grandes bênçãos para aqueles que têm o caráter adequado. Esse caráter precisa ser desenvolvido em cada um de nós ouvindo o rei. O processo exige um reconhecimento da necessidade (“fome e sede”), uma vontade de começar sozinho (“uma cidade edificada sobre um monte”) e a coragem de fazer sacrifícios doloridos (“se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti”). O resultado é uma perfeição de espírito que reflete a perfeição do Pai (5:48), pelo qual as qualidades desenvolvidas em sujeição ao rei e as bênçãos recebidas por participação no reino são idênticas.

Os Cidadãos do Reino II – Mateus 6 e 7

Grupos numerosos de pessoas (governos, empresas, exércitos) exigem a hierarquia do comando. Essa organização hierárquica é necessária para compensar as limitações de um único líder que não pode instruir ou comandar pessoalmente a população inteira e não pode perceber e prover todas as necessidades individuais. As imperfeições dos cidadãos também exigem a partilha da autoridade. Todos os cidadãos precisam ser instruídos e corrigidos, e alguns podem até mesmo necessitar serem policiados. Todas essas responsabilidades estão além da capacidade de apenas um comandante humano desempenhá-las sem uma organização hierárquica de apoio.
O resultado desse arranjo, contudo, é que introduz preocupações estranhas ao propósito geral do grupo. Inevitavelmente, os indivíduos aspiram a posições mais altas e maiores benefícios; há competições e valorizações erradas. Até mesmo num reino podem ser feitos esforços para atingir posição e honra impressionando outros e não o rei.

O reino dos céus não tem outra hierarquia além do Rei e seus súditos, porque o Rei não tem limitações de atenção ou capacidade. “Porque Deus, o vosso Pai, sabe de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mateus 6:8); ele pode ser abordado diretamente, como um Pai, por todos os cidadãos (6:9); Ele é capaz de ver até mesmo as coisas secretas (6:4,8); e ele é capaz de prover não somente para os cidadãos humanos, mas até mesmo para os reinos vegetal e animal (6:28-30). “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir” (Isaías 59:1).

Tendo em vista que o Rei do Céu não tem nenhuma das deficiências dos governadores humanos, não há necessidade das hierarquias intermediárias e preocupações externas que caracterizam as organizações do mundo. Como Rei está sempre ciente das ações e motivos de cada um, os cidadãos do reino dos céus não devem ter necessidade de se preocuparem com impressionar uns aos outros. Não são obtidas promoções, por grandes feitos vistos pelos homens. De fato, não há hierarquia na qual se é promovido. Além do mais, atos feitos meramente para a glória dos homens perdem o seu valor diante do Rei, que julga os motivos (6:2). As realizações em favor do Rei podem e devem ser secretas, assim demonstrando o motivo adequado e confiando no Rei para que ele veja e galardoe (6:3-4, 16-18).

Assim, já que o Rei tem um relacionamento pessoal com cada cidadão, não é necessário demonstrar nossa ligação íntima com ele a outros cidadãos por meio de orações públicas. O Rei pode ouvir-nos até mesmo em lugares escondidos. Orações longas e repetitivas são sem sentido, porque Ele sabe o que precisamos antes que o peçamos (6:5-7). Uma vez que o Rei está ciente de todas as necessidades dos cidadãos e é capaz de prove-las, não há necessidade de se preocupar com acumular tesouros (6:19-21) ou estar ansioso pelas necessidades desta vida (6:25-34). “Pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas” essas coisas (6:32).

O exemplo simples de oração (6:9-13) dado por Jesus ilustra cada um destes pontos: a íntima ligação pessoal com o Rei (“Pai nosso”), a dependência e confiança nele para prover nossas necessidades (“O pão nosso… dá-nos hoje”) e responsabilidade direta com o Rei (“perdoa-nos as nossas dívidas”). Essa oração também ilustra o único interesse que os cidadãos podem ter, e devem ter, como resultado da eliminação das distrações que são parte dos reinos terrestres. “Venha o teu reino” (6:10) é mais do que um pedido pela vinda do Reino. É uma expressão de fidelidade ao Rei e seus propósitos. Na realidade é uma definição do reino: a vontade de Deus sendo feita na terra (e em nós) do mesmo modo como é cumprida no céu. Essa visão clara, centralizada, de nosso lugar no reino é ilustrada pela bênção de uma boa visão, que inunda o corpo com informação necessária para agir corretamente (6:22-23), e pela impossibilidade de servir a dois mestres ao mesmo tempo (6:24).

A participação no reino dos Céus exige uma devoção ao Rei que poucos atingirão (7:13-14). Expressões de devoção (“Senhor, Senhor”), ou mesmo grandes realizações em nome do Rei (7:21-22) não são suficientes, são até mesmo contra as leis do Rei se não forem a vontade do Pai. Com Deus, o Filho como nosso Rei, podemos dar toda a força de nossa lealdade, atenção e atividade somente a ele. Buscar louvor, posição ou posses, tudo são distrações características das organizações mundanas, com seus governantes imperfeitos e egoístas. Nosso Rei sabe e pode prover tudo o que verdadeiramente necessitamos. Mas “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (6:32-33).

Mal-entendidos sobre o Reino – I

Equívocos a respeito do reino de Cristo podem ser espiritualmente fatais. Eles fazem com que algumas pessoas rejeitem totalmente o reino e conduzem outros a perverterem sua natureza e propósito. Há alguns equívocos comuns sobre o reino em nossos dias, que foram evidenciados há muito tempo na enigmática pergunta feita por João Batista, em Mateus 11:1-15. João Batista perguntou a Jesus, “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? ” Devemos observar em Mateus 11:2-4 que essa questão se originou no próprio João e que Jesus dirigiu sua resposta diretamente a ele. João tinha visto o Espírito descer sobre Jesus e testificou a respeito dele, “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! ” e, “Ele é o Filho de Deus” (João 1:29-36). Por que João estava agora questionando o próprio testemunho que ele anteriormente tinha dado? Eu creio que podemos identificar alguns mal-entendidos por trás dessa pergunta.
1) O problema do bem-estar pessoal. João tinha motivado muitas pessoas a se arrependerem e esperarem o reino. Ele tinha testificado claramente que Jesus era o Messias. Ele tinha arriscado sua própria vida repreendendo o Rei Herodes por todos os seus males, especialmente por possuir Herodias, a esposa de seu irmão Filipe (Marcos 6:17-19; Lucas 3:19-20). Qual foi sua recompensa? Prisão! Imagine o desconforto daquela antiga prisão e a frustração de estar limitado, sem mencionar a ameaça constante de morte feita por Herodias e Herodes.

Circunstâncias tão horríveis têm feito muitos duvidarem. João estava querendo saber por que o Messias não o estava resgatando para a causa da verdade. João teria que aprender o significado literal de sua declaração sobre Jesus, “Convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). A vontade de Deus para João não era o resgate físico, mas o martírio. Como um galardão espiritual, ele foi reconhecido por Cristo como “mais que profeta” e “entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mateus 11:9-11) e recebeu um lugar no reino celestial entre os outros profetas de Deus (Lucas 13:28-29).

Há uma lição para nós no meio do engano muito difundido que o sucesso do reino de Cristo é medido pela prosperidade física e que o propósito do reino é o lucro mundano (1 Timóteo 6:5). Evangelistas bem conhecidos têm usado habilmente os meios de comunicação para propagar tal erro, desacreditando a mensagem do evangelho. Precisamos aprender a submeter nossas vidas a Deus como servos de Cristo independente das circunstâncias físicas em que estejamos. Paulo viu sua salvação em manifestar Cristo seja pela vida, seja pela morte (Filipenses 1:19-20).

O plano de Deus versus o plano do homem. Quando João propôs sua pergunta a Jesus, ele tinha sido adequadamente informado pelos seus próprios discípulos sobre o ministério de Jesus (Mateus 11:2; Lucas 7:18). Isso implica que, na mente de João, Jesus não estava manifestando-se bastante claramente como o Messias que estava vindo e que o reino estava insuficiente em perfil. Precisaria Jesus melhorar seu ministério? A resposta do Senhor a João em Mateus 11:5-6 ressaltou que ele estava seguindo o plano de Deus. Sua referência à ressurreição dos mortos, a cura dos cegos, dos coxos, dos leprosos, dos surdos e a pregação do evangelho aos pobres continha uma dupla prova dele ser o Messias.

Não somente provou seu poder divino, mas também cumpriu as profecias de Isaías 35:4-6; 61:1-3. Tal evidência estava dando prova adequada para impedir as pessoas de se ofenderem com as declarações messiânicas de Jesus. Entretanto, o ministério de Jesus era intencionalmente simples, cumprindo Isaías 42:1-4. Ele evitava os movimentos políticos de massa, o sensacionalismo, e a emoção momentânea, e destacava a justiça e a confiança em seu nome (Mateus 12:15-21). O reino messiânico ia desenvolver-se de acordo com o plano já estabelecido pela sabedoria de Deus no Velho Testamento (João 5:19-20). Essa sabedoria, afinal, seria justificada por seus frutos (Mateus 11:18-19) e não seria mudada por qualquer insatisfação de homens devotos, mas impacientes.

A necessidade de conversão. A revelação por Jesus, de si mesmo e do reino, foi ditada não somente pelo plano predeterminado de Deus, mas também pela necessidade de mudar as pessoas interiormente. Ao reagir à pergunta de João, Jesus expressou preocupação sobre a violência contra o reino (Mateus 11:12). Quando os homens rejeitaram ou mudaram a mensagem de João ou a de Jesus, eles cometeram violência contra o reino ou tentaram entrar nele pela força, sem o devido arrependimento (Lucas 16:16). A pregação do reino era para conscientizar os homens sobre o pecado deles e persuadi-los a mudar suas vidas de acordo com a vontade de Deus. O escriba em Marcos 12:28-34 não estava “longe do reino” porque tinha-o entendido como amor prático a Deus e ao próximo. Paulo salientou que o reino é “justiça, e paz, e alegria”, e que não é comida nem bebida (Romanos 14:17). Jesus ressaltou que o reino não era algo que vinha com sinais observáveis, mas algo “íntimo” entre os homens (Lucas 17:20-21).

João tinha elevado a emoção do povo, referente ao reino, a um pico; mas depois pareceu ficar impaciente com os métodos de Deus. Os homens hoje em dia se deixam levar pela impaciência e buscam sucesso desviando-se da conversão genuína, e que “calcula a despesa”, por um “evangelhoconveniente, que apela ao homem exterior. O evangelho se dirige ao homem exterior, mas a sua preocupação principal é com a salvação eterna do homem interior.

Quando a autoridade das Escrituras e a batalha contra o pecado são minimizadas, e a igreja se torna principalmente um centro comunitário e um fórum sociopolítico, a conversão não se efetiva, e o reino sofre violência. O sucesso está em fazer a vontade de Deus pelo modo de Deus.

Mal-entendidos sobre o Reino – II

Durante o ministério de Jesus, muitos dos seus discípulos imaginaram seus sonhos se realizando. Sua demonstração de poder divino tinha-os convencido de que ele seria um rei capaz de atingir os objetivos políticos e suprir as necessidades físicas deles. De acordo com João 6, contudo, Jesus viu esses “sonhos” como equívocos pondo em perigo seu ministério e trouxe-os a uma parada súbita, fazendo com que muitos deles encerrassem sua experiência como discípulos. Os mal-entendidos que conduziram a esse triste evento não são estranhos aos nossos dias. Jesus e a política. Depois dos 5.000 terem ouvido Jesus pregar sobre seu reino o dia todo e terem sido milagrosamente alimentados por ele (Lucas 9:11-17), eles sabiam que Jesus era um profeta especial (João 6:14). Mas Jesus teve que fugir deles, porque estavam usando a força para perverter sua missão espiritual numa missão política (João 6:15). O Senhor nunca concebeu seu reino como mundano, com forças militares, como ele declarou claramente a Pilatos em João 18:36. O sonho que Jesus entraria no campo político como rei, libertando os judeus da ocupação romana e da depressão econômica, ele nunca pretendeu realizar.

Isso não significa que Jesus estivesse esquecido dos governadores e dos assuntos políticos envolvendo a palavra de Deus, pois ele pregou submissão aos governantes civis (Lucas 20:22-26), mas francamente julgava a crueldade e exploração deles (Lucas 13:31-32; 22:25). Ele e seus apóstolos ensinaram mensagens claras sobre assuntos sociopolíticos para serem pregadas pelos cristãos de hoje, a respeito do aborto, prostituição, homossexualidade, divórcio e novo casamento, álcool e drogas, educação de filhos, crimes e racismo, só para mencionar umas poucas. Entretanto, o domínio de Cristo nunca foi designado a juntar seus seguidores em instituições políticas na terra, quer sejam governos ou partidos políticos. Precisamos cuidar para que a igreja do Senhor não se torne em instituições como essas, justamente como ele recusou tornar-se um rei terreno.

Jesus e o alimento. A multidão que Jesus alimentou milagrosamente veio procurá-lo mais tarde, no outro lado do mar da Galileia. Eles imaginavam um Rei Messiânico que não somente os guiaria como também proveria cura instantânea e refeições para todos os adeptos. Mas Jesus repreendeu-os pelo motivo deles, “Vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará” (João 6:26-27). Jesus não se opunha à alimentação da multidão em si, porque em duas ocasiões ele alimentou-a depois que o tinham ouvido muito tempo (Marcos 6:34-44; 8:1-9). Jesus opôs-se muito a atrair pessoas para sua missão e mantê-las por meios carnais, e se recusava a prover pão nessa base. Semelhantemente, o Novo Testamento coloca o comer com o propósito de satisfazer a fome pessoal e o confraternizar nas casas particulares. (1 Coríntios 11:21-22).

A meta do reino é a vida eterna. Hoje em dia, as festas, a recreação e os programas para alimentar os pobres patrocinados pela igreja, contradizem o ensinamento de Jesus em João 6. Jesus e os sinais. Em João 6:30-32 a multidão exigia um sinal de Jesus “para que o vejamos e creiamos em ti”. Parece que a alimentação milagrosa que eles tinham experimentado já tinha perdido seu impacto, e agora era preciso mais um sinal. O Senhor fazia sinais para ensinar verdades espirituais (Lucas 5:23-25) e identificar-se como o Messias prometido que operava com o poder de Deus (Lucas 7:20-23; Atos 2:22). Note como ele esperava que seus apóstolos compreendessem seu poder total pela alimentação das 5.000 pessoas (Marcos 6:51-52; 8:14-21).

Quando havia pouco interesse em entender a mensagem dos sinais, ele executava poucos milagres e apontava para sua ressurreição como o sinal especial que seria dado aos judeus que buscavam sinais (Mateus 12:38-40; 13:58; Marcos 6:4-6). Sempre que a descrença impedia que os sinais de Cristo mostrassem seu poder e princípios, eles não podiam servir para nenhum outro propósito além do sensacionalismo o qual necessitaria de constante repetição para manter o povo estimulado a receber o reino. Mas Cristo nunca quis fervor artificialmente provocado; ele queria produzir convicção que resiste a todas as fases da vida e traz naturalmente amor, zelo, felicidade e emoções que louvam seu nome.

Jesus e as palavras de vida. Jesus disse a essa multidão, “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6:63). As palavras que Jesus disse são o meio usado pelo Pai para ensinar e levar homens ao seu Filho, Jesus, o qual o Pai enviou como sua testemunha (João 6:44-46). Aqueles que aprendem essas palavras e vivem por elas “comem o pão da vida”, “absorvendo” sua carne e sangue sacrificados pela vida do mundo (João 6:51-58). Jesus, o Filho, nem perderá nem expulsará tais fiéis, mas os ressuscitará no último dia para a vida eterna (João 6:37,39-40). Aqueles de mente carnal, dessa multidão, estavam cegos para a mensagem espiritual de Cristo e se afastaram com desgosto daquilo que eles viam como absurdo, doutrina canibalista, e Cristo nem tentou acomodá-los (João 6:52,60,66-69). Hoje, os homens de mente secular também ridicularizam a mensagem de Cristo como fora de moda, que não consegue atender as necessidades modernas do homem, os quais surgem do meio cristão para secularizar o reino. Imitando Cristo, não nos acomodemos com eles, mas permaneçamos fiéis à sua mensagem e reino, que conduzem à salvação de nossas almas.

(Zeitgenössische orthodoxe Theologie)